É com muita satisfação que estamos divulgando os minicursos online da nossa XII edição do EPHIS! Teremos, ao todo, 8 minicursos, divididos em 2 blocos de 4 para realizar as inscrições – e mais: essa primeira parte do nosso evento está sendo protagonizada por mulheres!
Venham conferir mais informações sobre os minicursos e sobre as palestrantes!
Possibilidades e perspectivas: os povos africanos nos arquivos do tribunal de Lisboa (séculos XVII-XVIII)
Proponentes: Aline da Silva Cerqueira (UFMG) e Letícia Maia Dias (UFMG)
O minicurso tem como finalidade discutir as múltiplas perspectivas e possibilidades que os arquivos do Tribunal de Lisboa evidenciam no que tange ao estudo dos povos africanos.
O Tribunal do Santo Ofício tinha como objetivo identificar, julgar e punir os indivíduos cujos comportamentos eram entendidos pela Igreja como delitos, uma vez que infringiam suas normativas, sendo um deles a feitiçaria. No caso português, seu funcionamento se deu ao longo de três séculos, influenciando profundamente o cotidiano e as relações das sociedades em que atuou. A escravidão impôs a presença significativa dos povos africanos em inúmeras denúncias e processos inquisitoriais, sendo muitos aspectos culturais, sociais e religiosos não apenas expostos, mas interpretados e punidos sob a ótica da identidade cristã europeia.
Nesse sentido, durante o século XVII e XVIII, muitos africanos e africanas tiveram aspectos sociais, culturais e religiosos de suas trajetórias de vida expostos nas denúncias e processos inquisitoriais. Destacamos que tais documentos precisam ser interpretados cuidadosamente pois foram produzidos conforme a linguagem, o contexto e interesses dos inquisidores, bem como dos denunciantes, estando muitos réus em seus testemunhos sujeitos às situações de pressão psicológica e física. Contudo, não obstante as deturpações existentes, as denúncias e processos envolvendo africanos acusados de feitiçaria apresentam uma importante fonte histórica que fornece informações acerca das diversas regiões do continente, bem como dos seus povos e das complexas relações que estabeleceram entre si e as demais populações dos locais onde habitaram.
Qual a importância histórica das fontes inquisitoriais? Quais possibilidades apresentam para a construção do conhecimento histórico acerca do continente africano? Como o Tribunal de Lisboa funcionava e se estruturava? Como a feitiçaria era entendida pela Igreja? Quais perspectivas podem nortear os estudos do historiador(a) sobre essa documentação, levando em consideração os interesses e o contexto no qual foram produzidas? Como podemos dar voz aos denunciados e processados por feitiçaria? Essas dentre outras questões serão respondidas ao longo do minicurso. Essas são algumas questões a serem respondidas no minicurso.
Descolonização de Abya Yala: práticas de pesquisa e ensino em História das Indígenas Mulheres
Proponentes: Ana Valéria dos Santos Silva (UFAL), Mariana Laurentino Teixeira (UFOP) e Verônica Araújo Mendes (UFAL)
A História — acadêmica e ensinada — das indígenas mulheres tem sido, por séculos a fio, violentada pela razão moderna colonial a qual é responsável por projetar os indivíduos sociais em uma ordem hierárquica cuja escala de valor e importância serve para legitimar as relações de dominação e subordinação. Em conformidade com o padrão de poder colonial, as indígenas mulheres foram, ora apagadas das produções historiográficas e didáticas, ora secundariamente representadas como seres abjetos, primitivos e absurdamente luxuriosos, além de que, seus rastros, paulatinamente, vão se dissipando como que prenunciando a inevitável “extinção”.
Evidentemente que, nas últimas décadas, com a emergência das perspectivas críticas a episteme colonial, bem como com a pressão dos movimentos indígenas e de indígenas mulheres organizado, temos assistido a mudanças de abordagens significativas, ainda que não hegemônicas nos bancos de teses e dissertações, nas revistas especializadas ou em livros de maneira geral. No âmbito dos documentos educacionais legais, temos como marco importante a Lei de No 11.645, de 10 março de 2008, a qual instituiu a obrigatoriedade do estudo da História e da cultura dos povos indígenas e afrodescendentes nas escolas de ensino básico, do fundamental ao médio.
Este minicurso intenciona seguir avançando com a crítica ao legado colonial e aos modos como tem se manifestado na tradição historiográfica brasileira e no ensino de História. Ele se recusa a repetir o mesmo padrão de poder, instaurado desde a intrusão colonizadora, e se propõe ser ferramenta de reflexão capaz de suscitar redirecionamentos rumo a descolonização de Abya Yala. Ademais, superando o histórico hiato caracterizado pelo distanciamento entre a história ensinada e a história acadêmica, propomos pensar pesquisa e ensino lado a lado. Afinal, é na relação teórico-prática que podemos exercitar o espírito investigativo, crítico, colaborativo e transformador – caro a comunidade de historiadoras (es) e docentes que se posicionam no mundo como sujeitos éticos e políticos.
Defendemos uma nova perspectiva para a historiografia e para Ensino de História, não apenas abordando as chamadas “Temáticas Indígenas”, mas também considerando a interseccionalidade em relação às mulheres originárias.
História das Mulheres Negras no Brasil
Proponente: Suelen Girotte do Prado (PUC-SP) e Ticiane Cadas de Abreu (PUC-SP)
O Brasil possui uma rica e complexa história de mulheres negras que desempenharam papéis fundamentais em diversas esferas da sociedade, desde a colonização até os dias atuais. No entanto, frequentemente essas histórias são negligenciadas ou subrepresentadas nos currículos escolares e na narrativa histórica dominante. Este minicurso tem como objetivo contribuir com as diversas inciativas existentes para preencher essa lacuna, oferecendo uma visão abrangente e aprofundada sobre a história das mulheres negras no Brasil, destacando suas contribuições, lutas e resistências ao longo dos séculos.
Este minicurso representa uma janela de oportunidade, convidando os interessados a mergulharem na história das mulheres negras no Brasil. É uma jornada destinada a reconhecer não apenas suas batalhas, mas também suas vitórias e o inegável legado que deixaram para a sociedade brasileira. Ao participar, espera-se que os envolvidos transcendam as fronteiras do conhecimento convencional, emergindo com uma compreensão mais abrangente e compassiva da trajetória do país. Além disso, o curso promete oferecer insights enriquecedores, dotando os participantes com ferramentas valiosas para aplicação em suas respectivas esferas de atuação, transformando conhecimento em ação e empoderamento.
Narrativas da Palestina: Resistências, Terrorismos e Dialética Colonial
Proponentes: Emny Nsaif do Carmo (PUC-MG) e Maria Júlia Viana Matoso (UFMG).
Em outubro de 2023, a Operação Tempestade Al-Aqsa foi organizada em retaliação às violentas operações da polícia israelense na mesquita que dá nome à operação, e trouxe à tona o horror contínuo da ocupação israelense da Palestina com o recrudescimento da violência colonial, acirrando um dos conflitos mais multifacetados da atualidade. Esse conflito, inserido em um conflito árabe-israelense mais amplo, têm atravessado níveis internacionais, domésticos, comunitários e religiosos, entre outros.
Seus principais atores muitas vezes mudaram desde os conflitos e disputas durante o Mandato Britânico, antes de 1948. A partir da guerra civil que os israelenses chamam de Guerra da Independência e os palestinos chamam de Nakba (desastre), até o fim da Guerra Fria, o conflito se desenrolou principalmente como uma rivalidade entre Israel e os estados árabes, incluindo guerras como as intifadas e as guerras árabe-israelenses. Desde a Primeira Intifada de 1987-1993, a luta palestina pela independência do domínio militar israelense na Cisjordânia e Gaza ressurgiu como o fulcro do conflito, e atores não estatais como o Hamas e o Hezbollah têm ofuscado os Estados Árabes como os principais combatentes.
Tendo isso em vista, este curso pretende abordar a complexa dinâmica do conflito Israel-Palestina, o processo de colonização e ocupação, as múltiplas formas de resistência e outras diferentes respostas, a relação entre as potências ocidentais e sua influência direta, especialmente a relação entre os Estados Unidos e Israel. A proposta do curso é analisar a origem e o caráter da ocupação e da colonização, as diferentes formas de resistência e os múltiplos grupos de resistência, e por fim, propor análises conjunturais e históricas sobre os desdobramentos atuais do conflito nos últimos meses, buscando compreender os diversos elementos que o permeiam e suas implicações para a região e para o cenário internacional. Ao longo das aulas, objetivamos analisar também as nuances das relações entre religião e política e de alguns conceitos como colonização, ocupação, sionismo, judaísmo, Islã, islamismo, terrorismo, resistências etc.
Ciências Naturais, Colonialismo e Formação Territorial no Brasil
Proponente: Helena Amaral Sant’Ana (UFBA)
O curso “Ciências Naturais, Colonialismo e Formação Territorial no Brasil” propõe uma análise crítica das interações entre as ciências naturais, o colonialismo e a construção do território brasileiro. Explorando desde o início das explorações atlânticas até os desafios ambientais contemporâneos, o curso abordará como as narrativas sobre o meio natural foram moldadas e utilizadas para legitimar o domínio colonial e a exploração dos recursos naturais. Serão examinados os impactos do colonialismo na supressão de culturas e práticas ancestrais, assim como os pontos de permanência e resistência que permeiam a história do Brasil.
As ciências naturais são comumente associadas ao progresso e ao desenvolvimento. Botânicos, naturalistas e cientistas europeus se destacaram como autoridades na catalogação e no conhecimento da flora, fauna e territórios. No entanto, é crucial refletir sobre como tais práticas se conectam à objetificação do meio natural, levando à supressão de culturas e práticas ancestrais em nome da “civilização”. Desde os primórdios das explorações atlânticas, a natureza tem sido simplificada como fonte de recursos em prol das ambições humanas.
Nos séculos XVIII e XIX, as ciências naturais contribuíram para a racionalização da natureza e a validação de hierarquias, reforçando a ideia da supremacia do homem branco sobre todos os elementos e povos. Isso ocorria porque a narrativa do meio natural era moldada a partir de uma perspectiva europeia. Essa visão levou a uma compreensão de que toda a vida estava subordinada ao trabalho e à manutenção de um sistema que exercia controle sobre a terra, o espaço, os corpos e a fé.
Ao explorar o período colonial no Brasil, nos deparamos principalmente com fontes produzidas com o intuito de controle, o que por vezes dificulta a criação de uma história sob uma perspectiva decolonial. No entanto, podemos encontrar pontos de permanência que nos permitem construir narrativas históricas. Esses pontos incluem as denominações de lugares que ainda mantêm nomes indígenas, os vestígios arqueológicos, as tradições e culturas que resistiram ao longo do tempo.
Além disso, é possível olhar para o próprio espaço natural como uma fonte de entendimento do passado, como as montanhas e os rios, que nos permitem conectar diferentes temporalidades. Esses elementos frequentemente foram representados em registros cartográficos e documentos em geral, possibilitando discussões sobre a história natural e suas utilizações para contextualizar o espaço, além de refletir sobre suas denominações e significados em diferentes culturas e momentos históricos.
A proposta para este minicurso é investigar o próprio espaço e questionar a produção de narrativas que influenciaram a concepção do meio natural e da vida durante os processos de formação territorial. Abordaremos também as conexões com os desafios contemporâneos enfrentados pelo país, tais como a degradação ambiental e as ameaças às comunidades tradicionais.
Delinquências e dissidências: (re)pensar historicidades por uma narrativa dos excluídos
Proponentes: Bruna Pupe (UFRGS)
Ancorado na temática dos estudos das relações de gênero e sexualidade e no campo historiográfico da História Social do Crime, o minicurso possui por base o estudo conceitual e metodológico das relações sociais e da historicidade de sujeitos marginalizados, principalmente mulheres e pessoas sexualmente dissidentes. Neste minicurso construir-se-á discussões para expandir as possibilidades de análise e ampliação das discussões que visualizem o gênero e a sexualidade como dispositivos possíveis de marginalização e delinquência social, assim como, objetos úteis para o empreendimento da História Social como campo de conhecimento histórico.
Elas no império: a presença das mulheres na imprensa periódica do século XIX
Proponente: Aldenize da Silva Ladislau (UFPB)
A imprensa periódica da segunda metade do século XIX, no Brasil, representa um cenário de publicação ativo daquilo que transcorria no cotidiano da sociedade. Constituía-se como uma empresa, sendo espaço que propiciava o debate político, a troca de opiniões acerca de diversos assuntos, também a inserção da crônica-folhetinesca que trazia romances escritos por intelectuais da época, a informação de anúncios comerciais, entre tantas outras facetas que demandavam o trabalho de pessoas inseridas no processo de produção, circulação, venda e leitura da palavra impressa.
Neste cenário de atuação, envolvidas no trabalho de publicação de jornais, há uma questão importante a ser discutida, referente aos lugares ocupados pelas mulheres e as funções que exerciam nas typografias (lugares onde os jornais eram produzidos). Assim, esta questão transforma-se em problemas de pesquisas importantes para a historiografia da imprensa periódica no Brasil.
Este minicurso tem por objetivo oferecer discussões acerca da história das mulheres na imprensa, em particular, a imprensa periódica em circulação no Brasil do século XIX (momento em que alcançou grande circulação e foi o principal meio de comunicação). Como arsenal teórico-metodológico construir-se-á diálogos com autores da área de História Cultural, História das Mulheres e da perspectiva dos Estudos de Gênero e da História da Imprensa. Assim, pretende-se ofertar o conhecimento de dispositivos que facilitem as pesquisas que têm como objeto de estudo a imprensa periódica. Neste minicurso, serão investigadas as atuações, as representações e o circuito intelectual das mulheres presentes na imprensa periódica da Parahyba do Norte, na segunda metade do período oitocentista.
Questões étnico-raciais no ensino e na pesquisa histórica
Proponentes: Floriza Beatriz de Sena Paula (UFOP) e Silmária Reis dos Santos (UFBA)
O que fazem os (as) historiadores (as) quando fazem História? Ressaltamos e buscamos trazer para o debate mais uma dificuldade a ser encarada no ensino e a pesquisa histórica nas subdisciplinas Teoria da História e História da Historiografia. Pensar essas duas subdisciplinas no quadro das relações étnico-raciais é algo ainda bastante recente, mas há trabalhos que têm apontado essa demanda.
Esses trabalhos trazem a necessidade de viabilizarmos mais da branquitude que opera as estruturas de poder brasileira, como na educação, política, mídia hegemônica, geoculturas de prestígio, em especial na elaboração e prática das políticas do tempo presente. Há também urgência de reafirmarmos a dimensão do comportamento como efetivamente plural, diverso, apesar de haver uma memória disciplinar que hierarquiza as geopolíticas do conhecimento, e as moraliza em pensamentos fronteiriços e de margem “bons” e “desprezíveis”. E isso deve-se à emergência de um número significativo de estudantes racializados (as) nas universidades públicas após a disputada lei de cotas (Lei no 12.711/2012), bem como a luta frequente dos movimentos sociais desde o século XX, inspirados(as) nas lutas ancestrais. A versão mais recente da lei de cotas é a Lei no 14.723/2023, que reformula e amplia o atual sistema de cotas. O tema das cotas, em específico as cotas raciais, ganhou amplitude nas mídias mais amplas no início dos anos dois mil, juntamente com vastas publicações acadêmicas que se dividia no debate entre pró-cotas ou contrário à política.
Todas essas transformações, de início deste século, têm sido fundamentais para a reflexão do campo da História no Brasil. A Lei no. 14.038, de 17 de agosto de 2020, que dispõe sobre a regulamentação da profissão de Historiador, trouxe importantes adendos em fortalecimento para a comunidade historiadora. Somente em 2020 houve a regulamentação da profissão do (a) historiador (a), passa-se a ser reconhecido (a) como profissional somente quem tem alguma formação na área e formação acadêmica, ou que tenha trabalhado diretamente com esta nos últimos 5 anos à Lei. A comunidade buscava a regulamentação profissional desde 1986.
Mas, apesar dos desenhos que buscam maior qualidade de trabalho e devidamente enquanto profissionais, devemos pensar também na reciprocidade da produção e circulação do conhecimento para além do modo oficial-acadêmico de ser. Em contexto de comemoração aos 20 anos da aplicação da Lei no 10.639/2003 (e posteriormente a criação da Lei no 11.645), bem como as demandas e dificuldades que permeiam a sua aplicabilidade na cultura educacional do Brasil, ressaltamos e buscamos trazer para o debate mais uma dificuldade a ser encarada na pesquisa histórica nas subdisciplinas Teoria da História e História da Historiografia.
Se tratando das subdisciplinas aqui envolvidas, o Simpósio temático se propõ refletir sobre tópicos como a (in)disciplinarização do cânone historiográfica, história oficiosa, giro-linguístico, geopolítica do conhecimento, autorias, públicos e circulação do conhecimento, políticas do tempo, discurso histórico, intelectualidade
Logo, sentimos a dificuldade de pesquisas e pesquisadores (as) em abordar as relações étnico-raciais na Teoria da História e na História da Historiografia. Pensando nisso, objetivamos neste Minicurso dialogar diretamente com questões étnico-raciais em diferentes perspectivas históricas, sejam elas no âmbito do ensino de história, estudos de trajetórias e biografias, ensino de história indígena, cabocla, ribeirinha, comunidade LGBTQIAPN+, de gênero e todos os mais variados temas vividos, pois entendemos que essas propostas de pesquisas diferentes da acadêmica-normativa possam ser basilares na compreensão e crítica às subdisciplinas aqui tratadas. Em outras palavras, as pesquisas que abordam questões étnico-raciais no Brasil, podem ser ponto de partida e de chegada para as mudanças nas subdisciplinas de Teoria da História e História da Historiografia.
Em breve abriremos as inscrições!
Atenciosamente,
a Comissão Organizadora do XII EPHIS