Hoje trazemos mais uma edição do EPHIS INDICA! Desta vez, a recomendação é a obra “Sobre o conceito de História” de Walter Benjamin.
Produzido de forma fragmentária entre as lutas e fugas de Benjamin das Forças Nazistas, “Sobre o conceito de História” é um texto produto e produtor de uma encruzilhada entre tempo e espaço. Mencionadas pela primeira vez em uma carta de 1940 endereçada a Max Horkheimer, um dos intelectuais da Escola de Frankfurt, as teses de Benjamin tensionam a história metódica e a colocam em xeque com sua contribuição que funde e transmuta sua percepção do messianismo judaico e de sua militância revolucionária.
Embora o texto seja curto, com apenas 18 teses, a profundidade de seus significados e reflexões é imensa. Benjamin impõe uma encruzilhada à História, ao pensar que nossa escrita pode criar um tempo “homogêneo e vazio”, em que as experiências dos sujeitos históricos são cerceadas. Ele critica o foco excessivo nas grandes figuras vitoriosas ao longo do tempo, muitas vezes suprimindo os sujeitos subalternos.
Dessa maneira, Benjamin nos alerta para como a história pode ser uma ferramenta que violenta esses sujeitos que se encontram nos escombros dos vitoriosos. Assim, o autor aponta como o Estado de Exceção, em que o próprio vivia, passa a se definir como norma a muitos grupos minoritários que são violentados, tanto no passado, quanto no presente. Logo, devemos buscar fazer uma “história escovada à contrapelo”, escavando passados, sujeitos e lutas que tentam ser enterradas em uma escrita da história vazia e homogênea.
As teses podem ser entendidas como uma resposta de Benjamin ao seu tempo, em que o medo constante de ser um judeu escapando da morte iminente o levaria ao suícidio como resposta às mazelas de seu tempo. Por outro lado, elas também são legados que reverberam de forma diacrônica, seja pelos vários intelectuais que foram juntando suas diferentes versões de “Sobre o Conceito de História” ao longo do século XX, como Arendt, Adorno e Agamben, seja pela leituras e releituras de suas teses que ainda tensionam a historiografia do agora.